Às vezes temos a sensação de que somos sufocados pela adolescência dos nossos filhos. Oferecem-nos constantemente doutas opiniões sobre a melhor forma de lidar com eles, somos soterrados em livros de especialistas que estudam e analisam esta fase do crescimento, ouvimos na televisão e na rádio consagradas figuras falar sobre esta candente problemática. E nós, na tentativa de sermos os melhores pais do mundo, tudo ouvimos, tudo lemos, tudo estudamos... e só conseguimos colecionar umas boas doses de desespero e de frustração porque nem de longe somos capazes de pôr em prática um milésimo dos muitos conselhos que nos caem em cima.
A adolescência é possivelmente a fase do crescimento dos nossos filhos em que mais nos questionamos sobre a forma como desempenhamos o nosso papel de pais, em que mais dúvidas temos sobre a melhor forma de agir em relação a comportamentos que nos tiram do sério, em que mais vezes nos exasperamos e deixamos as nossas emoções irem ao rubro. É a fase em que nos sentimos mais inseguros, porque num momento estamos a lidar com um adulto e no outro com uma criança e, sobretudo, porque percebemos que deixámos de ter controlo sobre a vida dos nossos filhos – e, claro, não os achamos suficientemente maduros para serem eles a tomar as rédeas dos seus destinos.
Os pais dos adolescentes de hoje também foram adolescentes – numa época em que em Portugal a adolescência era um conceito relativamente recente e em que não havia ainda muitas receitas próprias para esta fase. Nem livros, nem programas de televisão, nem psicólogos especializados. A adolescência, enquanto estádio específico, tinha uma importância relativa nas preocupações dos pais de então, e não era uma palavra que assustasse. Os adultos lidavam com a adolescência como lidavam com o crescimento em geral e não havia “apaparicanços” especiais para estas idades. Os nossos pais, os avós dos adolescentes de hoje, nem adolescentes foram – o conceito talvez já tivesse sido inventado, mas não tinha divulgação e muito menos aplicação. É claro que também tiveram 12, 13, 14, 15, 16, 17 anos, mas nessa época não havia estádios intermédios: ou se era criança ou se era adulto. A passagem de um estádio ao outro era direta e a criança tinha de fazer rapidamente o ajustamento para o ser adulto – e muitas vezes isso era feito de forma dolorosa.
A “invenção” da adolescência foi uma ótima forma de as crianças viverem a passagem para a idade adulta com uma atenção própria aos seus problemas, aos seus medos e até aos seus mundos. Mas caímos muitas vezes no exagero de transformar essa atenção numa obsessão, de olhar para esses medos como se de patologias do comportamento se tratassem, de achar que esses mundos são antros de perdição dos quais os nossos filhos poderão não voltar. De tão preocupados que estamos em responsabilizarmo-nos a nós, pais, pela adolescência dos nossos filhos, esquecemo-nos de lhes dar a eles a responsabilidade pela sua própria adolescência – e assim prolongamos-lhes a infância em vez de os ajudarmos a entrar na idade adulta.
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